E quando encerrar, portanto, a psicoterapia?

Falamos muito em quando e por que começar a psicoterapia. Falamos sempre em sinais, sintomas, em começos. Muitos embarcam na viagem, só com a passagem de ida – como deve ser, nas abordagens não diretivas (explico melhor depois!) -, e vão junto com terapeuta numa jornada de paradas e paisagens… Onde descer? Onde parar o trem?

Quem diz?

Fotografia: Carol Macedo

Leva tempo. Cada um, o seu. Cada criança, cada processo, terá seu tempo de vivenciar a psicoterapia. Às vezes, casos muito similares perduram em tempos completamente distintos em psicoterapia. Às vezes, casos aparentemente complexos demandam poucos encontros com o terapeuta. E outras vezes, casos que parecem de pouca demanda persistem em figurar nos moldes da terapia por um tempo longo…

A existência é contínua, do mesmo modo que são, portanto, suas demandas, seus problemas, seus desencontros. “Vencer” uma etapa não garante sucesso na próxima – todas tendem a ser muito diferentes. Portanto o fechamento é imprevisível. O fim, o encerramento… olha, eu nem chamo assim.

Costumo dizer que todo processo psicoterápico tem suas pausas. Não chamo de alta, de fim, ou de fechamento. No máximo, de encerramento de ciclo. Porque, digo sempre, a existência continua a acontecer! E tudo o que ela carrega consigo, também.

Mas, então, dura para sempre? Não acaba nunca?

Pode durar para sempre, em alguns casos, por que não? Mas na maioria deles, é contrário. Colocamos pontos finais. E esses pontos finais, não definitivos, mas indicativos de pausas, têm seus precursores.

O principal, a bem dizer, é o desaparecimento da principal demanda trazida para a terapia. “Era o sono ruim demais”, “o xixi na roupa que voltou a acontecer”, “as crises agressivas desproporcionais ao evento”… Quando a demanda principal deixa de existir, é um sinal para estarmos atentos para um possível encerramento. Possível. No horizonte. Nunca o encerramento imediato.

Outro precursor é a sinalização da própria criança. Sim, ela mesma reconhece sua necessidade de permanecer ali ou não. E fala abertamente sobre isso. Já ouvi de mini pacientes: “é que eu ainda não preciso tanto, mas preciso um pouco”. E portanto esticamos mais meses de processo que parecia prestes a se encerrar. A criança também sinaliza sua necessidade de psicoterapia sendo veemente na recusa em parar. Sendo veemente na afirmação em continuar naquele espaço. Se isso acontece, é pé no freio e, por ora, continuidade. Mas se acontecem comportamentos opostos, é observação: vamos ver, juntos, se é hora de parar?

Para a terapeuta, também pode ser sinal de pausa quando, após eliminada a demanda trazida e/ou a demanda da criança (elas podem ser diferentes! Posso falar disso também num depois), ainda se passa um demasiado tempo em que tudo de mostra estável, e no qual a criança demonstra aceitação quanto a não ir mais à terapia.

No entanto, por mais que haja precursores que mapeiam nossa trajetória, encerrar uma psicoterapia de abordagem não diretiva é algo feito sempre com parcimônia e calma. Tem de fazer sentido chegar o fim. E tem de fazer eco a todo um cenário protagonizado pela criança – sempre por ela.

Pausar um processo terapêutico não é simples, realmente. Às vezes, queremos pausar porque a criança está “bem”. Todavia, ela pode estar bem porque está em processo terapêutico! Por isso que demanda tempo e paciência, experimentação, observação cuidadosa, e muita clareza de que a criança (e não seus pais ou escola ou afins, mas sim a criança) não tem mais demanda em permanecer ali.

Percebe? A protagonista é sempre ela. E é a partir dela, voltando-se para ela, que vamos conseguindo saber quando a terapia deixa de fazer sentido nesse momento da vida.

Para ser retomada num depois, quem sabe. É o que pode ser.

 

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